Abelhas podem ser a chave para travar desflorestação

A apicultura surge na Amazónia como um método de fazer dinheiro utilizando poucos recursos Foto: Eric Gaillard - Reuters

Ambientalistas brasileiros acreditam que as abelhas sem ferrão da Amazónia podem ser a solução para impedir a desflorestação e melhorar os meios de subsistência dos povos que habitam nessa floresta tropical.

“As abelhas são tudo para mim. Ajudam-me a proteger a floresta. Ajudam as árvores a crescer, a produzir fruta e a ser fortes”, explicou ao Guardian Neida Pereira, ambientalista de 49 anos que há décadas procura travar a desflorestação. “As abelhas são muito mais importantes para o ambiente do que eu”.

Para que possam sobreviver na Amazónia, as comunidades locais recorrem fortemente a práticas de desflorestação, nomeadamente a queima e o corte de árvores para libertar espaço para a agricultura e criação de gado.

Perante a dificuldade destes povos em encontrar outros recursos, Neida Pereira procurou alternativas mais sustentáveis que pudessem substituir as tradições destrutivas da floresta.

A apicultura surge, neste cenário, como um método de fazer dinheiro utilizando poucos recursos, fornecendo assim às comunidades da Amazónia um meio de subsistência que permitirá manter a maioria da floresta intacta.

Os custos deste negócio são mínimos em termos de espaço, trabalho e materiais, mas os lucros podem ser significativos. Neida Pereira estima que cada colmeia possa resultar num lucro de 800 reais em apenas seis meses.

Esse valor, multiplicado por 40 colmeias, resulta num lucro 30 vezes superior àquele que seria originado pelos negócios tradicionais como o cultivo da mandioca em terras propositadamente desflorestadas pelo fogo.

As pessoas ainda não perceberam quanto dinheiro podem fazer com isto. Temos de espalhar a palavra”, defende Neida.
Possível expansão do negócio
Com o investimento da fundação Global Greengrants Fund, foi possível criar em novembro o primeiro centro de apicultura da Amazónia, situado na região de Lago Grande.

Neste momento, o único centro de apicultura apenas vende mel a mercados locais, mas irá candidatar-se em breve a um certificado oficial que permitirá a venda em grandes mercados. O objetivo é demonstrar como a apicultura na Amazónia resulta positivamente para os povos locais, especialmente entre os mais jovens.

No centro Casa Familiar Rural, onde trabalha a ambientalista, são ensinados aos estudantes modos de cultivo e de proteção do solo que não impliquem queimas, métodos pouco intensivos de criação de gado e formas de reflorestar a Amazónia com árvores de fruto, tais como ananases e bananas.

“Precisamos de ensinar aos mais novos que existe uma forma diferente de viver com a floresta”, acredita Neida Pereira.

A comunidade que habita em Lago Grande encontra-se isolada e, até recentemente, sentia-se esquecida por todos. Os habitantes dos cerca de 300 mil hectares de Lago Grande querem que estes sejam classificados como reserva de extração, de modo a obterem o estatuto de proteção que impede que a terra seja utilizada por pessoas de fora e grandes empresas.

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Rodrigo Rivera