Pesquisa mostra alta quantidade de resíduos sólidos em região da Amazônia

Uma garrafa peruana de Coca-Cola da edição especial de natal de 2016 no Peru foi encontrada em 2019 em região de floresta da região do Médio Solimões, Amazônia Central. 

A embalagem foi coletada durante pesquisa do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (Pibic) do Instituto Mamirauá com o objetivo de identificar e classificar resíduos sólidos encontrados em florestas de várzea, ecossistema amazônico alagável caracterizado pela dinâmica de cheias e secas.

A pesquisa que conta com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) começou em agosto conduzida pela estudante de Ciências Biológicas da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Zeneide Silva. 

Os resultados propõem um questionamento. Afinal, como que uma garrafa de Coca-Cola como essa, do Peru, vem parar no meio da floresta amazônica três anos depois de fabricada? ”, questiona Elias Neto, o coorientador do projeto e pesquisador do Grupo de Pesquisa em Ecologia Florestal do Instituto Mamirauá, organização social fomentada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC). 

Para o estudo, Zeneide coletou resíduos em cinco parcelas, áreas de um hectare cada definidas previamente e onde são realizadas pesquisas do GP Ecologia Florestal. As áreas de amostragem estão localizadas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, unidade de conservação da região de várzea. 

A coleta aconteceu entre os dias 11 e 13 de novembro em metade das parcelas – que totalizou 2,5 hectares. Para o campo, os pesquisadores aproveitaram a mesma logística do grupo de pesquisa, que realiza medições anuais nas parcelas.  

A cada hectare, 600 gramas de lixo

Foi encontrada uma média de 600 g de resíduos sólidos por hectare para esse tipo de floresta de várzea, o equivalente a 60% da produção diária de lixo por pessoa no Brasil. 

O número, de acordo com Elias, pode ser considerado alto. “Apesar de não termos outras pesquisas como parâmetro, encontramos uma média de 15 itens de resíduos por hectare – o que eu considero muita coisa”, afirma.

Plástico é maioria

Os itens encontrados foram variados, como escovas, embalagens de produtos cosméticos, bacias, pedaços de brinquedos, copos e utensílios domésticos. Na composição dos resíduos, o material se dividiu entre 84% de plástico, 8% de borracha e 8% de isopor. 

Alguns produtos já se encontravam com a embalagem deteriorada, mas, em alguns, conseguimos identificar o código de barras”, explica Elias. Com essa identificação, os pesquisadores detectaram, além da garrafa de refrigerante proveniente do Peru, a origem estadunidense de um selante de silicone.

As hipóteses sobre como os resíduos chegaram até uma área central da floresta amazônica são diversas: o lixo pode ter sido proveniente de descarte inadequado nas cidades próximas, como Tefé, e levado até a floresta pelos rios, ou vindo de barcos que passam pela região. “A grande questão é por que ele foi parar lá”, explica o pesquisador.

Os pesquisadores querem ampliar a área de amostra para entender melhor a dimensão do problema de poluição por resíduos sólidos na floresta amazônica. Para isso, entretanto, necessitam de financiamento, já que os custos com logística e análises são altos. 

Presença de microplástico no solo

Durante a expedição, também foram coletadas amostras de solo, que estão em fase de análise pela estudante. O objetivo é identificar se há a presença de microplásticos no solo da região, materiais ligados à intoxicação.  “Se encontrarmos microplástico nesse solo coletado, vai ser interessante continuar e fazer mais pesquisas”, afirma a jovem.

Elias afirma que já foi detectado esse tipo de material em peixes amazônicos e as consequências da contaminação na fauna e na flora ainda são pouco conhecidas. Deve-se, de acordo com o engenheiro florestal, tentar entender se é possível haver algum tipo de impacto desses materiais na capacidade de regeneração da floresta.

O pesquisador defende que o estudo, que finaliza em julho do ano que vem, deve abrir portas para novas pesquisas sobre a temática na região. “Se a gente encontrar na floresta amazônica, um dos lugares mais remotos da Terra, quem garante que não pode ser encontrado em qualquer outro lugar? ”, pergunta.

Texto: Júlia de Freitas (Instituto Mamirauá)/ Foto: Elias Neto

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Rodrigo Rivera